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Número de indígenas mortos por Covid-19 no AM é o maior do país

por Clara Toledo Serafini

mutirão de vacinação

Segundo dados levantados pelo “Comitê Nacional pela Vida e Memória Indígena”, da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil, a APIB, o Amazonas está em primeiro lugar em números de mortes de pessoas dos povos originários, em decorrência da Covid-19.

De acordo com a entidade, o Amazonas concentra mais de 250 mortes de indígenas por complicações da doença. Em todo país, foram mais de 1.100 mortes.

Os casos de coronavírus são apurados diariamente pela associação, e confirmados através do contato direto com as lideranças indígenas e organizações locais, incluindo indígenas residentes em áreas urbanas e respeitando o auto reconhecimento dos povos.

Gersem Baniwa é antropólogo e um dos fundadores da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira, a COIAB. De acordo com Baniwa, os indígenas vivem um momento delicado:

“Para mim, os povos indígenas vivem um verdadeiro cerco de mortes. Mais do que um cerco de guerras, um cerco de mortes. Não é só a pandemia que está matando os indígenas, mas as invasões de garimpeiros, de madeireiros, de missionários. Ninguém quase não faz nada por esses indígenas que estão morrendo”, afirmou Baniwa.

O antropólogo também critica a atuação do estado. Para ele, os indígenas estão sendo negligenciados pelos orgãos que deviam auxiliar os povos no combate à pandemia:

“Eu acho muito triste do ponto de vista humano, do ponto vista de civilidade e de direito, o movimento indígena aguentar vendo o Estado brasileiro excluir metade dos indígenas de vacinação, isso é um absurdo. Uma coisa é discutir direito à terra e direito à educação, mas direito à vida… não deveria ter em hipótese alguma”, concluiu o antropólogo.

Quando começou a vacinação contra o coronavírus, os indígenas que vivem em contexto urbano não foram inclusos nos grupos prioritários.

Diversas medidas na Justiça foram tomadas para incluir a população de indígenas não aldeados como prioridade na vacinação. Até agora, a União e o Governo do Amazonas não acataram nenhuma delas.

Segundo o membro do Comitê Nacional pela Vida e Memória indígena, Eriki Paiva Terena, quando o estado não reconhece indígenas não aldeados, isso se torna um ato excludente:

“Hoje, dentro dessa porcentagem de mais de 900 mil indígenas – segundo o IBGE -, cerca de 50% a 60% vivem em áreas urbanas, então eles estão homologados em áreas urbanas, enquanto 300 mil a 400 mil vivem em aldeias, em áreas homologadas. Portanto, quando o Governo faz isso, ele exclui os indígenas que não moram em áreas aldeadas ou áreas não homologadas “

Outro problema é a subnotificação de mortes entre indígenas. De acordo com a Apib, a falta de transparência dos dados da Secretaria de Saúde Indígena, a Sesai, do Ministério da Saúde, impede a identificação de muitas cidades onde os óbitos aconteceram.

A Sesai só contabiliza casos confirmados e óbitos de indígenas que residem em terras homologadas na Funai.

Segundo a pasta, o número de óbitos entre os povos originários está um pouco mais acima de 135.

O número se distancia dos registros de mais de 250 mortes, contabilizados pela Apib.

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Reportagem: João Felipe Serrão
Foto: Alex Pazuello/Prefeitura de Manaus; Marcelo Camargo/Agência Brasil

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