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Especial – O Caso Dom e Bruno: realidade do Vale do Javari e cronologia dos crimes que chocaram o Brasil

por Clara Toledo Serafini


Reportagem: Cindy Lopes e Rennan Gardini

Segunda maior terra indígena do país, o Vale do Javari é uma área de proteção ambiental com mais de 8,5 milhões de hectares demarcados.

A região tem a maior concentração de povos isolados do mundo e abriga diversas etnias indígenas, como os Marubos, Kanamaris e Korubos.

No entanto, o território enfrenta uma série de desafios: a exploração ilegal de madeira, a pesca e a caça ilegais, o tráfico de drogas, a mineração clandestina e a invasão de terras por garimpeiros.

E foi esse local que, há um ano, se tornou o cenário de um crime que ganhou as manchetes do mundo inteiro: o assassinato brutal do indigenista Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips.

Quarta-feira, 01 de junho de 2022.

Dom e Bruno se encontram no município de Atalaia do Norte (AM), no Vale do Javari.

O jornalista inglês chegou ao local semanas antes. Ele colhia relatos de lideranças indígenas e ribeirinhos para o livro que estava escrevendo chamado “Como Salvar a Amazônia?”.

A dupla viajou de barco pela região em uma expedição que se estendeu até o domingo, 5 de junho – dia em que Bruno e Dom navegaram pelas águas barrentas do rio Itaquaí de volta para Atalaia do Norte.

No meio do caminho, uma breve parada na comunidade São Rafael. Lá, Bruno tinha um encontro marcado com um líder comunitário para falar sobre invasores na região. O homem, conhecido como “Churrasco”, não apareceu. A dupla seguiu viagem e chegou a ser vista por moradores antes de desaparecerem no rio.

Ainda no domingo, a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) deu início às buscas, mas foi na segunda-feira, dia 6, que o desaparecimento da dupla ganhou as manchetes dos jornais.

Os dias seguintes foram marcados por buscas, investigações, protestos, prisões e vestígios de que um crime havia ocorrido. Foram necessários dez dias para encontrar os restos mortais de Dom e Bruno, em uma área de difícil acesso, 3 quilômetros mata adentro.

Cinco pessoas foram presas suspeitas de envolvimento nos homicídios: Amarildo da Costa Oliveira, conhecido como “Pelado”, Oseney da Costa de Oliveira, o “Dos Santos”- irmão de Pelado – Jeferson da Silva Lima, o “Pelado da Dinha”, Gabriel Pereira Dantas, que teve a participação descartada e foi solto, e o peruano Rubens Villar Coelho, conhecido como Colômbia.

O laudo da Polícia Federal revelou que Bruno Pereira foi morto com três tiros: um na cabeça e dois no tórax. Dom Phillips, por estar com o indigenista, foi assassinado com um tiro no tórax.

Eles foram esquartejados, queimados e enterrados em uma área de mata fechada. Há relatos de que o indigenista era alvo constante de ameaças feitas por pescadores ilegais, garimpeiros e madeireiros.

Poucas semanas antes do desaparecimento de Bruno, a Univaja registrou boletim de ocorrência relatando ameaças aos integrantes da entidade.

Além disso, em entrevista à jornalista Rosiene Carvalho, no mês de abril de 2022, Bruno Pereira contou que revelou crimes de servidores da Funai. (Ouça)

O coordenador jurídico da Univaja, Eliésio Marubo, foi advogado de Bruno e diz que o indigenista foi muito perseguido. (Ouça)

O jornal britânico The Guardian, para o qual Dom Phillips escrevia, disse que o anúncio das mortes do inglês e de Bruno Pereira, destacou os perigos enfrentados por aqueles que ousam defender o meio ambiente e as comunidades indígenas.

Um relatório da ONG Global Witness de 2020 apontou que, pelo menos 20 ativistas ambientais foram mortos no Brasil, o que coloca o país como o quarto que mais mata pessoas ligadas a causa.

 

 

 

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