Cinemas de rua: uma parte perdida da cultura manauara

 

Reportagem: Eros de Sousa

Na última semana foi escolhido o filme que vai representar o Brasil no Oscar. Retratos fantasmas reconta a história dos cinemas de Rua de Recife, capital de Pernambuco, mostrando a transformação desses locais ao longo dos anos. Uma das frases do filme diz que “todo centro é igual”.

Essa frase combina muito com Manaus, capital que também teve um período efervescente de cinemas de rua e que influenciaram diretamente na sociedade da época.

Durante as décadas de 60 e 70 os cinemas de rua viveram o auge das exibições na capital, o centro de Manaus abrigava quase todos, era um período de início da popularização da televisão, e esse estabelecimentos eram a única opção de entretenimento na cidade, como explica o pesquisador Ed Lincon. (Ouça)

Entre os cinemas que viveram o seu auge durante esse período estão o Cine Éden, Polytheama, Aldeon, Popular, o Vitória, do bairro Educandos, Ideal no bairro São Raimundo, e Palace, do boulevard, além do Cine Guarany, que era considerado o cinema do povão

O pesquisador Ed Lincon explica que na época alguns cinemas exigiam um código de vestimentas para os frequentadores, hábito que não existia no Cine Guarany. (Ouça)

Os cinemas eram parte da sociedade manauara do passado, de forma que havia até cerimônias de casamento dentro dos cinemas. (Ouça)

Esse período também consiste em momento de repressão e autoritarismo, à época a ditadura militar no país censurava o que considerava subversivo e ilegal.

É nesse sentido que uma figura importante do cinema no Amazonas entra em cena: Joaquim Marinho.

Joaquim comandava cinemas de rua no período e organizou o primeiro grande festival de Cinema da região norte, em 1969, que contou com importantes cineastas do Brasil no circuito.

Ed lincon conta que a visibilidade criada pelo festival, fez com que a ditadura militar aumentasse o rigor durante o período do evento, com o principal alvo o clássico Macunaíma, dirigido Joaquim Pedro de Andrade (Ouça)

Esse período também coincide com a popularização da televisão, cada vez mais a população tinha o aparelho em casa, o que fez com que os cinemas não fossem mais a única forma de entretenimento.

Ed Lincon explica que essa mudança foi radical para os cinemas de rua. (Ouça)

Com essas problemáticas, os cinemas de rua do período foram se tornando menos importante na vida do manauara, grande parte desses estabelecimentos se encerram na década de 70.

Um em especial se mantém até a década de 80, o Cine Guarany, o cinema do povão, que causou protestos nos jornais da época em seu fechamento, em 1984, vendido ao banco Itaú.

Outro que se tornou estabelecimento comercial foi o Cine Avenida, vendido a empresa Bemol.

Quando se caminha pelo centro de Manaus hoje ainda é possível ver fachadas decadentes de alguns cinemas desse período, como o Cine Éden e o Polytheama.

Esses cinemas contam a história de uma Manaus que vivia em uma lógica diferente, em que os filmes eram parte central da vida social manauara.

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