O ano de 2025 poderia ser o ano do tão sonhado diploma da faculdade de Relações Públicas do jovem Marco Aurélio, de 20 anos. No entanto, o ano pode ser marcado pelo início do julgamento dos acusados pela morte do universitário. Os familiares vivem a angustiante espera por justiça.
O estudante foi morto com um tiro nas costas, que teria sido disparado por um policial militar após a ordem de comando de outro PM, durante uma ação na noite do dia 6 de outubro de 2023, na comunidade Raio de Sol, na periferia da zona Norte de Manaus.
Os réus são os policiais Augusto Albuquerque da Silva e Miquéias Costa de Souza, acusado de puxar o gatilho.
À época, Marco cursava o quinto período da faculdade de Relações Públicas na Universidade Federal do Amazonas.
De acordo com o Tribunal de Justiça estado, a previsão é que a audiência de instrução seja realizada na segunda quinzena do mês de junho.
Esta etapa ouve testemunhas e interroga os réus. Caso o rito seja concluído sem novos pedidos de apuração, o juiz responsável pelo caso tomará a decisão de levar a investigação a júri popular ou não.
O Ministério Público do Amazonas defende que os réus respondam por homicídio qualificado.
Segundo os relatos descritos nas investigações do MP, Marco Aurélio havia saído para filmar uma luta esportiva na comunidade Raio de Sol, no bairro Nova Cidade. Ao término do evento, o universitário estava sentado em uma das ruas da área junto a um grupo de amigos próximo a um beco.
O surgimento de uma viatura da Polícia Militar e faróis altos de forma repentina assustou os jovens, que correram. Ali, as testemunhas ouviram dois disparos. Um deles atingiu Marco nas costas. A advogada da família, Liliane Araújo, relembra que o ato não condiz com a conduta da Polícia Militar.
Testemunhas anônimas entrevistadas pelo Grupo Rede Difusora de Rádio relataram que a atuação da PM dentro da comunidade, nesse contexto, é geralmente truculenta.
Ainda de acordo com as testemunhas, no momento da ação, também havia o funcionamento de comércios e um movimento normal de pessoas na rua.
Para a advogada Liliane Araújo, o crime foi um ato de covardia: (ouça)
A comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil também acompanha o caso. A presidente da entidade, advogada Alessandrine Silva, afirma que a comissão espera uma resposta da Justiça.
No dia 19 de abril, familiares e amigos realizaram um ato pedindo justiça por Marco Aurélio e pelo fim da violência policial contra jovens.
O professor e pesquisador da Rede de Observatórios de Segurança, Fábio Candotti, afirma que o caso de Marco Aurélio é emblemático porque envolve três aspectos: uma ação injustificada da polícia, a demora para a conclusão das investigações, que levou cerca de oito meses, e a ausência de dados que monitorem a atuação das forças por parte da Secretaria de Segurança Pública:
Candotti também avalia que o racismo estrutural instalado nas insituições contribui para crimes desse tipo: (ouça)
Um amor inestimável pela família, responsável, estudioso e sempre alegre: era assim que os próximos descreviam Marco. Ele era o caçula, entre os quatro filhos da professora Aldenyra Winholt.
A mãe do adolescente relata ter deixado de trabalhar desde a morte de Marco que, segundo ela, foi vítima do preconceito.
A vítima também era um micro empreendedor do ramo de acessórios e possuía uma loja online, onde comercializava óculos. Marco Aurélio inclusive comprou um carro com a renda do próprio negócio.
O pai Hugo Castro relembra que o filho era cuidadoso com a família e pretendia abrir um espaço físico para a empresa.
Juan Pablo afirma que o amigo de faculdade tinha características marcantes que vão ficar sempre lembradas por ele.
Na Ufam, amigos e professores prestaram uma comovente homenagem com uma placa de recordação e a frase abaixo nome de Marco Aurélio que diz: “As pessoas só morrem quando são esquecidas. Não te esqueceremos”.
Nesta reportagem, a BandNews Difusora procurou a defesa dos policiais Augusto Albuquerque da Silva e Miquéias Costa de Souza que não foi autorizada a falar a pedido dos réus.
A Polícia Militar do Amazonas e a Corregedoria da PM não se manifestaram até o momento.
A Secretaria de Segurança Pública do Amazonas também foi questionada sobre o caso e questões levantadas na reportagem, mas também ainda não se manifestou.
Por Mauricio Max.