Reportagem: Ricardo Chaves
A escolha do nome que irá coordenar e dirigir o instituto que é referência mundial em Biologia Tropical está dividindo cientistas e pesquisadores do país.
Quatro cientistas colocaram o nome à disposição do Comitê de Busca. Compete ao grupo coordenado pelo professor da Ufam e ex-deputado federal Eron Bezerra, elaborar uma lista tríplice que será encaminhada a ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos (PCdoB) até o fim de agosto.
Caberá a ministra indicar o novo diretor do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI).
Até a data limite para entrar com recursos, que foi até o dia 11 de agosto, apenas um grupo de cientistas apresentou uma série de informações por “má conduta científica” contra a inscrição do professor da Ufam, Henrique Pereira. O pedido é assinado pelos pesquisadores Lucas Ferrante, Alexandre Celestino Leite Almeida, Jeremias Leão, Ruth Camargo Vassão, Rodrigo Machado Vilani e Unaí Tupinambás.
O grupo afirma que o pesquisador agiu contra a integridade científica e que seus estudos serviram de base para tomadas de decisões equivocadas de gestores públicos que resultaram na quebra precoce do isolamento no Amazonas e contribuiu, segundo os autores do pedido, para a catastrófica segunda onda de Covid-19 e no surgimento da variante gama.
De acordo com o pesquisador da Ufam, Lucas Ferrante, um dos autores do recurso, as análises estatísticas publicadas no Atlas ODS Amazonas, grupo de pesquisa coordenado por Henrique Pereira, foram manipuladas para comprovar a hipótese do pesquisador de que Manaus seria a primeira cidade a superar a pandemia.
Lucas Ferrante argumenta que na época, seu grupo de pesquisa alertava sobre a possibilidade da segunda onda da pandemia.
Ferrante explica que o grupo demonstrou o equívoco de Henrique Pereira em um artigo científico publicado em um periódico internacional. (Ouça)
As acusações contra Henrique Pereira repercutiram entre a comunidade científica.
Uma nota assinada por 95 cientistas repudiou o que chamou de “atos difamatórios e caluniosos que visam manchar” a reputação do professor.
Discordando do grupo de Ferrante, os cientistas dizem que os estudos de Henrique ajudaram a entender melhor a tragédia que aconteceu em Manaus e que em um cenário de grandes incertezas é necessário reconhecer os esforços científicos.
A nota é assinada por três ex-diretores do Inpa e cientistas como Paulo Artaxo; professor da USP, Ennio Candotti; diretor do Musa, Marilene Corrêa; ex-reitora da Universidade do Estado do Amazonas (UEA); e pesquisadores do Inpa, como Niro Higushi e Sonia Alfaia.
A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) também se manifestou em defesa de Henrique Pereira ao que chamou de “campanha difamatória” e “uso político”.
Lucas Ferrante, diz que a denúncia contra Henrique Pereira é meramente técnica. (Ouça)
Para a BandNews Difusora, Eron Bezerra explica que a escolha para a direção do Inpa observa critérios e tem etapas onde são definidas pontuações aos candidatos. (Ouça)
Além de Henrique Pereira se inscreveram no processo: Bruce Rider Forsberg (pesquisador aposentado do Inpa), Carlos Cleomir de Souza Pinheiro (pesquisador do Inpa) e Marina Anciães (pesquisadora do Inpa). (Ouça)
O pesquisador Henrique Pereira foi contatado pela equipe de reportagem da BandNews Difusora para comentar as questões em torno da sua cotação para a direção do Inpa, mas não deu retorno até o fechamento desta reportagem.