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Seis mil famílias estão isoladas em Manaquiri pela maior seca registrada em 45 anos na região

 

Por Rosiene Carvalho e Chamel Flores.

 

Com fortes dores nas costas, a agricultora Maria Sueli dos Santos Tavares, de 65 anos, enfrenta o sol do verão amazônico e caminha por mais de duas horas onde passava um volumoso rio, no Paraná do Manaquiri, na bacia do Amazonas. (Ouça)

O percurso é feito com apoio dos ombros do marido e uma muleta de madeira até o ponto navegável do local. Suely precisa de uma cirurgia em Manaus, a duas horas de barco de Manaquiri. No Amazonas, as estradas são os cursos d’água.

Um ano após a seca mais severa da história, os rios não subiram o suficiente e a vazante marca níveis mais baixos que no mesmo período do ano passado em vários pontos. Os dados são do Serviço Geológico do Brasil. Todos os 62 municípios do Amazonas estão em situação de emergência.

A comunidade ribeirinha onde Maria Sueli vive é uma das 42 isoladas no Paraná do Manaquiri. Quase seis mil famílias são afetadas, segundo a prefeitura.

A cidade, rodeada por pequenos trechos de rios e lagos, perdeu 18 metros de rio na orla, formando bancos de areia, como nos rios Solimões e Madeira, afluentes do Amazonas que superaram marcas históricas de volume e continuam descendo.

Para Sueli, a seca do ano passado não se compara ao que reserva as próximas semanas. (Ouça)

As chuvas estão cada vez mais raras. De acordo com o boletim de agosto do Sistema de Proteção da Amazônia, a previsão para o próximo trimestre indica altas temperaturas e precipitações abaixo da normalidade em quase toda a Amazônia.

Na comunidade Costa do Barroso, também em Manaquiri, 13 famílias isoladas fazem cacimbas, buracos cavados com as próprias mãos próximos a cursos de água subterrâneos, e puxam a água com canos para casa.

O agricultor Ednaldo Freitas de Queiroz é um dos empenhados nessa atividade. (Ouça)

Enquanto o pai pensa no sustento, o filho adolescente Endrews Rodrigues, de 14 anos, se preocupa com os estudos. (Ouça)

A seca também maltrata comunidades às margens da BR-319.

No Ramal Cai Nágua, a dona de casa Izete Caetano da Silva, de 58 anos, depende das chuvas ou da passagem do carro pipa dos Bombeiros. (Ouça)

Em um trecho do Paraná do Manaquiri, a jornalista Rosiene Carvalho registrou a realidade dos ribeirinhos. (Ouça)

É o caso do Francisco de Assis, 64 anos. (Ouça)

A agricultora Sueli, mesmo doente e andando horas sobre o leito do rio seco, declara a vontade de permanecer na comunidade ribeirinha.

No bioma com a maior bacia hidrográfica do mundo, as palavras lembram versos que Luiz Gonzaga usou para cantar o sofrimento da população sem água no sertão nordestino. (Ouça)

O presidente Lula esteve no Amazonas nesta terça-feira, dia 10, para visitar comunidades isoladas pela seca com uma comitiva de oito ministros. Na viagem, anunciou antecipação do pagamento do Bolsa família para 656 mil família no estado, dragagens nos rios Amazonas e Solimões para garantir navegabilidade em trechos que estão obstruídos e se comprometeu com a obra da BR-319, rodovia com licenças ambientais pendentes e apontada como pivô de desmatamento na região.

A Prefeitura de Manaquiri informou que está adquirindo carroças e pequenos tratores para ajudar no deslocamento de pessoas em comunidades isoladas pela seca dos rios.

O Governo do Amazonas anunciou instalação de purificadores de água, distribuição de caixas d’água e cestas básicas para famílias afetadas pela seca.

(Fotos: Chamel Flores/BandNewsDifusora)

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