Reportagem: Ricardo Chaves.
Com a proximidade do início da campanha eleitoral, três dos principais candidatos à Prefeitura de Manaus marcaram presença na 30ª edição da Marcha para Jesus em Manaus, realizada no último sábado, 10.
David Almeida (Avante), Alberto Neto (PL), e Roberto Cidade (União Brasil) participaram do evento religioso, que reuniu fiéis de diversas igrejas cristãs da capital.
O ponto de concentração foi a Praça da Saudade, no Centro de Manaus. De lá, os fiéis seguiram até o Sambódromo de Manaus, na zona Centro-Oeste.
David Almeida, atual prefeito e candidato à reeleição, registrou sua presença com uma publicação nas redes sociais, onde declarou estar “muito feliz em apoiar e participar” do evento. Almeida compartilhou fotos e vídeos ao lado de fiéis, da noiva Izabelle Fontenele, e da filha Fernanda Aryel, presidente nacional do núcleo jovem do Avante.
O deputado federal Alberto Neto (PL) também compartilhou registros do evento nas redes sociais, acompanhado de uma citação bíblica. Ele participou ao lado do apóstolo Renê Terra Nova, presidente do Ministério Internacional da Restauração (MIR).
Roberto Cidade, do União Brasil, foi outro candidato que marcou presença no evento, acompanhado dos deputados estaduais Felipe Souza e João Luiz, ambos com ligações a igrejas evangélicas.
Já os pré-candidatos Amom Mandel, Marcelo Ramos, Wilker Barreto, e Gilberto Vasconcelos não fizeram menção ao evento em suas redes sociais.
Para cientistas sociais ouvidos pela reportagem, a movimentação de políticos em meio às igrejas e aos fiéis em ano eleitoral tem o objetivo claro de influenciar na escolha do voto. Além disso, esse gesto reflete o crescimento e a ascensão de grupos religiosos na tomada de decisões políticas.
Raimundo Nonato, professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), explica que a influência de grupos religiosos remonta ao Brasil Império, quando a Igreja Católica exercia esse papel. A ruptura só ocorreu após a Proclamação da República.
Atualmente, o cientista observa uma ascendência das igrejas evangélicas. Ele avalia que os fiéis católicos e evangélicos nem sempre veem com bons olhos a presença de figuras políticas em eventos religiosos:
Em 2020, o Datafolha divulgou uma pesquisa apontando que 50% dos brasileiros são católicos, 31% evangélicos e 10% não têm religião. O Censo Demográfico de 2022 do IBGE revelou que, na Região Norte, existem mais templos religiosos do que hospitais e escolas. No quesito, o Amazonas fica atrás apenas do Pará.
Para a cientista política e pesquisadora de Geopolítica da Amazônia Legal, Paula Ramos, esses dados refletem a crescente relevância social das instituições religiosas na agenda política nos últimos anos:
A campanha eleitoral começa no próximo dia 16 de agosto, quando os candidatos poderão iniciar publicidade ou manifestações com pedido explícito de voto.
Conforme explicou uma advogada eleitoral consultada pela reportagem, a legislação eleitoral permite a presença de políticos em eventos religiosos, culturais ou sociais, desde que não haja pedido explícito de voto durante essas ocasiões.
No entanto, a prática de propaganda eleitoral nesses eventos é vedada. Isso inclui discursos que peçam votos, distribuição de materiais de campanha, ou qualquer outra manifestação com o objetivo de captar votos.
O registro de fotos de lideranças religiosas ao lado de políticos não constitui uma infração, desde que não haja conotação eleitoral ou pedido de voto implícito ou explícito.
Contudo, o Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro (TRE-RJ) cassou um deputado em fevereiro deste ano por abuso de poder religioso com repercussão econômica nas eleições de 2022. A decisão ainda cabe recurso.
A Corte entendeu que o discurso feito pelo deputado em dois eventos de uma igreja evangélica feriu a igualdade de oportunidades, com distribuição de material de campanha.